terça-feira, 15 de março de 2011

Segredos da Solidão Habitada

Nova poesia de Ir. Cristina, fma




Enquanto se cala o beijo amargo do silêncio
E o turbilhão do sentimento adormece
A mesa farta se esvazia por completo
E sobra apenas um resto de verdade

É no cálido momento do sem instante preciso
Que a boca cala e os olhos quase cerram-se
Que o resto que sobrou da verdade
Escapa como filetes de água entre os dedos
E mesmo a consciência mais pura é capaz de acusar-se

Aqui, no raro instante da consciência indivisa
Não há nem anjos e nem demônios
Só a limpidez dos olhos marejados pela ferida aberta
E um resto de compaixão

Ainda que a alma mais pura
pudesse rasgar o véu e abrir o livro lacrado
Ainda que o fogo adormecesse e só sobrassem cinzas
Ainda que como água ela escorresse dos meus dedos
Ainda sim eu procuraria minha própria verdade.

Uma remota vez, quase perdida no inconsciente
Ouvi um sábio falar
Que deveria sentir o mundo não apenas com o coração
Mas com todas as vísceras
E é assim que eu sinto....e isso talvez me defina

Contorço-me entre passagens de larvas em brasa
E gélidos caminhos de vento e frio
Na corda bamba das vicissitudes
Eu, equilibrista de mim mesma,
Levanto as pálpebras por vezes cansadas
E contemplo a profundidade do silêncio

Na tranquila calmaria
De quem enfim pode ter-se nas mãos
E então olhar-se fundo nos olhos
Capaz agora sou de definir-me:
Dinamismo, fogo, amor e paixão por viver!