quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Calem a boca, Nordestinos

* Abro espaço neste meu blog para este texto muito bom de José Barbosa Junior. Leiam até o fim.
Se você tem algum texto que gostaria que fosse aqui publicado, me envie.
Abração!




Calem a boca, Nordestinos!

 
Por José Barbosa Junior


 A  eleição  de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o
 que  há  de  pior  no  Brasil  em  relação  aos  preconceitos.  Sejam eles
 religiosos,  partidários,  regionais,  foram  lançados  à  luz  de maneira
 violenta, sádica e contraditória.

 Já  escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia
 me  envergonho  mais  do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e
 dos  pilantras  profissionais  de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra
 Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que
 fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se
 venderam  vergonhosamente  para  apoiarem a candidata petista. A luta pelo
 poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

 Mas  o  que  me  motivou  a  escrever  este texto foi a celeuma causada na
 internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações
 da  paulista,  estudante  de  Direito,  Mayara Petruso, alavancada por uma
 declaração  no  twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate
 um nordestino afogado!”.

 Infelizmente,  Mayara  não foi a única. Vários outros “brasileiros” também
 passaram  a  agredir  os nordestinos, revoltados com o resultado final das
 eleições,  que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui
 corrigido  por  muitos  e  convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do
 nosso país.

 E  fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em
 suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

 Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

 Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

 Ou  vocês  pensam  que são os bons só porque deram à literatura brasileira
 nomes  como  o  do  alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do
 Rego  e  Ariano  Suassuna,  dos  pernambucanos  João Cabral de Melo Neto e
 Manuel  Bandeira,  ou  então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa
 Rachel de Queiroz?

 Só  porque  o  Maranhão  nos  deu  Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur
 Azevedo,  Ferreira  Gullar,  José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos
 presenteou  com  José  de  Alencar  e Patativa do Assaré e a Bahia em seus
 encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

 Isso  sem  falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos
 do  genial   Chico  Anysio,  do  eterno  trapalhão  Renato  Aragão, de Tom
 Cavalcante  e  até  mesmo  do  palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado
 federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

 E  já  que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores
 como  os  cearenses  José  Wilker,  Luiza  Tomé,  Milton Moraes e Emiliano
 Queiróz,  o  inesquecível  Dirceu  Borboleta,  ou  ainda do paraibano José
 Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

 Ah!  E  ainda  os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado
 pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

 Música?  Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer,
 povo analfabeto e sem cultura…

 Ou   pensam  que  teremos  que  aceitar  vocês  por  causa  da  aterradora
 simplicidade  e  majestade  de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas
 canções  de  Nando  Cordel  e  dos  seus  conterrâneos pernambucanos Alceu
 Valença,  Dominguinhos,  Geraldo  Azevedo  e  Lenine?  Isso  sem falar nos
 paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner…

 E  Não  poderia  deixar  de lembrar também da genial família Caymmi e suas
 melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…


 
Ah! Nordestinos…

 Além  de  tudo  isso,  vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que
 nasceu  o  mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força
 opressora  do  branco  que  sabe o que é melhor para o nosso país? Por que
 vocês  foram  nos  dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na
 sofrida e linda história do seu povo?

 Um  conselho,  pobres  nordestinos.  Vocês deveriam aprender conosco, povo
 civilizado  do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes
 ensinar.

 Por  que  não  aprendem  conosco  os  batidões  do  funk carioca? Deveriam
 aprender  e  ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente
 chamadas  de  “cachorras”.  Além  disso, deveriam aprender também muito da
 poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim,
 porque  melhor  que  a  asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e
 rolar bundalelê!

 Por  que  não  aprendem  do  pagode  gostoso  de Netinho de Paula? E ainda
 poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no
 caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

 Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso
 do  Sul,  que  lhes  exporte  o  sertanejo  universitário… coisa da melhor
 qualidade!

 Ah!  E  sem  falar  numa  coisa  que  vocês tem que aprender conosco, povo
 civilizado,  branco  e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil!
 Vocês  não  sabem,  mas  na  verdade não está em jogo se é ou não trabalho
 infantil  (isso  pouco  vale  pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO
 esse  trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas
 crianças  não  podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso
 as  afasta  da  escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é
 porque  ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo
 e  sustentar  os  pais,  ou  ser  atriz  mirim ou cantora e ter a sua vida
 totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso…
 mas  o  que  importa  mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de
 Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!


 Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!


 Calem  a  boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a
 tantos  absurdos  de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado
 por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das
 mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

 Calem  a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao
 vento.  Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção
 desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

 Calem  a  boca,  porque  a  história  desse país responderá por si mesma a
 importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na
 música,  nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu
 povo  falou  mais  alto  e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é,
 antes de tudo, um forte!”

 Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos
 irmãos nordestinos!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

De novo a Feira do Livro

Visitei ontem (04/10/2010)  à tardinha mais uma vez a Feira do Livro de Porto Alegre.  Estava um tempo para chuva, o que eu adoro muito. Aquele cheirinho de chuva subindo da terra...inexplicável. Esse clima todo impulsiona em mim uma certa dose de nostalgia.  Interessante sobre a nostalgia é que ela aumenta ao entrar em contato com sua causa e não diminui como o sentimento da saudade. Exemplo: se alguém sente saudades ou falta de um conhecido, este sentimento cessa ao se reencontrar a pessoa, com a nostalgia é exatamente o oposto, ao reencontrar um amigo que gostava de brincar, este sentimento nostálgico irá se alimentar e não diminuir como a saudade.
Senti nostalgia ao reencontrar os livros!

VISITE A 56ª FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Visitando a Feira do Livro Porto Alegre 2010

Estive sexta passada (29/10)  na Feira do Livro de Porto Alegre, que está em sua 56ª edição. Passei por diversas bancas de livros, reencontrei pessoas amigas, conversamos sobre livros e leituras.
Percorrendo por entres tantas pessoas e bancas, manuseando um livro e outro, cheguei a triste conclusão do quanto tenho lido pouco. Existem tantas leituras interessantes e eu não consigo dar conta nem dos livros básicos da faculdade. Estamos vivendo numa realidade de corrida contra o tempo, e é esse um dos fatores que me impedem mais leituras. Sinto saudade do meu tempo de infância, quando na escola e em casa, eu era um leitor assíduo. Tanto que na escola a professora Eloína Rodrigues chegou a chamar minha mãe para conversar, porque eu estava lendo muito, inclusive nos momentos de recreio. Pois bem, foi com a mesma professora Eloína, e com colegas, que fui pela primeira vez à Feira do Livro de Porto Alegre. Lembro com carinho e muita saudade da leitura, dentro das atividades para a visita à Feira, de um trabalho que tive que fazer de um livro que acabei escolhendo, entre tantas opções: Maneco Caneco Chapéu de Funil. Trata-se da estória de vários objetos cansados de não fazer nada, que saem em busca de aventura.



Entre tantas lembranças que me veio, uma outra foi a da leitura de um livro de Charles Kiefer no ensino médio: Caminhando na Chuva. Uma história sem fim, na qual o leitor se delicia com um banquete de belas palavras que nos tocam e nos fazem entrar totalmente no clima do livro. Charles Kiefer realmente não escreveu o final do livro pra deixar um vazio ainda maior na cabeça do leitor. Mas no meu caso a professora de literatura, Nancy, pediu para eu escrever um final para esse livro e depois de ler o que escrevi, sugeriu que eu participasse de oficinas de literatura pois via em mim um futuro escritor. Pena que não segui o conselho dela... Voltando ao Caminhando na Chuva de Kiefer, o livro trata da história de um homem, que teve uma infância muito difícil, seus pais eram pobres e ele sofria muito de preconceito, principalmente depois quando conseguiu bolsa em uma escola particular, apesar de tudo ele era feliz, vivia no sítio de seu avô; porém este era muito machista e conservador, assim como o resto das pessoas naquela época. Por isso que desde criança gostava de caminhar pelas ruas da cidade em dia de chuva, pois estava sozinho, podia demonstrar seus sentimentos com a intensidade que desejasse, ninguém ia repreendê-lo.Quando tinha 14 anos, e que tinha acabado de chegar na nova escola, ele conhceu uma menina, se apaixonou, ela também, porém ele era pobre e ela era rica, e novamente o preconceito.Depois de acabarem o colegial, aquela paixão ainda persistia, e o pai da menina mandou-a a Porto Alegre para estudar.E a personagem principal sem nome, estava ali, cheio de dúvidas e tristeza, ele resolve então seguir o caminho da esperança e vai à Porto Alegre, pois algum dia ele ainda vai encontrar ela, vai ter um bom emprego e eles vão para Paris viver sua paixão sem preconceito.
A Feira do Livro me trouxe muitos sentimentos e lembranças que me emocionam e animam e também me dão vontade de ler todos os livros, pena que não há como... 
Uma outra constatação: muitos livros a preços bem em conta, mas no geral ainda os preços bem altos. 
Ainda registro meu apoio a AGEI: Associação para autores que publicam seus livros de forma independente, sem o intermédio de editoras. 

E você? Já foi à Feira do Livro? O que tem a contar sobre sua experiência com livros, leituras e a Feira do Livro de Porto Alegre ou de outras cidades? Escreva e envie para este blog. Farei questão de publicar sua partilha.

Abração!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Pacote de Biscoitos

“ Uma moça estava a espera de seu vôo, na sala de embarque de um grande aeroporto.

Como ela deveria esperar por muitas horas, resolveu comprar um livro para passar o tempo. Comprou, também, um pacote de biscoitos.


 Sentou-se numa poltrona, na sala Vip do aeroporto, para que pudesse descansar e ler em paz.

 Ao lado da poltrona onde estava o saco de biscoitos sentou-se um homem, que abriu uma revista e começou a ler.

  Quando ela pegou
o primeiro biscoito,
o homem também pegou um.
Sentiu-se indignada mas não disse nada.
Apenas pensou:
“Mas que cara de pau! Se eu estivesse
mais disposta
lhe daria um soco
no olho para que ele nunca mais esquecesse
desse
atrevimento!”

 
A cada biscoito que ela pegava, o homem também pegava um. Aquilo foi deixando-a indignada, mas não conseguia reagir.

Quando restava apenas um biscoito, ela pensou:
“ah... o que esse abusado vai fazer agora?”
Então, o homem dividiu o último biscoito ao meio, deixando a outra metade para ela.

 
Ah! Aquilo era demais!
Ela estava bufando de raiva!

Então, ela pegou seu livro,
pegou suas coisas e
se dirigiu ao
local de embarque.

 
Quando ela sentou-se confortavelmente numa poltrona,
já no interior do avião, olhou para dentro da bolsa para pegar seus óculos e, para sua surpresa, seu pacote de biscoitos estava lá,
ainda intacto, fechadinho!

Ela sentiu tanta vergonha! Percebeu então que a errada era ela...
Ela havia se esquecido que seus biscoitos estavam guardados em sua bolsa.

O homem havia dividido os biscoitos dele sem se sentir indignado, nervoso ou revoltado.





Enquanto ela tinha ficado muito transtornada, pensando estar dividindo o biscoito dela
com ele.

E já não havia mais tempo para se explicar...
nem pedir desculpas!”


Existem 4 coisas que não se recuperam...

a pedra...
...depois de atirada!

a palavra...
...depois de proferida!

A ocasião...
...depois de perdida!


O tempo...
...depois de passado!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax. Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito. As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo - e nem estou falando de sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher... na sua cama.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.
E já que vou, levo um jornal... Tchau!
Viva a vida com bom humor!!!
(Luís Fernando Veríssimo)