quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Amigo leitor, amiga leitora: Você sabe quem é Odilon de Oliveira?

Você vai saber agora...








Odilon de Oliveira, de 56 anos, estende o colchonete no piso frio da sala, puxa o edredom e prepara-se para dormir ali mesmo, no chão, sob a vigilância de sete agentes federais fortemente armados. Oliveira é Juiz Federal em Ponta Porã , cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com o Paraguai e, jurado de morte pelo crime organizado, está morando no fórum da cidade. Só sai quando extremamente necessário, sob forte escolta. Em um ano, o juiz condenou 114 traficantes a penas, somadas, de 919 anos e 6 meses de cadeia, e ainda confiscou seus bens. Como os que pôs atrás das grades, ele perdeu a liberdade. 'A única diferença é que tenho a chave da minha prisão.'



Traficantes brasileiros que agem no Paraguai se dispõem a pagar US$ 300 mil para vê-lo morto. Desde junho do ano passado, quando o juiz assumiu a vara de Ponta Porã, porta de entrada da cocaína e da maconha distribuídas em grande parte do País, as organizações criminosas tiveram muitas baixas.Nos últimos 12 meses, sua vara foi a que mais condenou traficantes no País.



Oliveira confiscou ainda 12 fazendas, num total de 12.832 hectares , 3 mansões - uma, em Ponta Porã , avaliada em R$ 5,8 milhões - 3 apartamentos, 3 casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das drogas. Por meio de telefonemas, cartas anônimas e avisos mandados por presos, Oliveira soube que estavam dispostos a comprar sua morte.

'Os agentes descobriram planos para me matar, inicialmente com oferta de US$100 mil.' No dia 26 de junho, o jornal paraguaio Lá Nación informou que a cotação do juiz no mercado do crime encomendado havia subido para US$ 300 mil. 'Estou valorizado', brincou. Ele recebeu um carro com blindagem para tiros de fuzil AR-15 e passou a andar escoltado.

Para preservar a família, mudou-se para o quartel do Exército e em seguida para um hotel. Há duas semanas, decidiu transformar o prédio do Fórum Federal em casa. 'No hotel, a escolta chamava muito a atenção e dava despesa para a PF.' É o único caso de juiz que vive confinado no Brasil. A sala de despachos de Oliveira virou quarto de dormir. No armário de madeira, antes abarrotado de processos, estão colchonete, roupas de cama e objetos de uso pessoal. O banheiro privativo ganhou chuveiro. A família - mulher, filho e duas filhas, que ia mudar para Ponta Porã, teve de continuar em Campo Grande. O juiz só vai para casa a cada 15 dias, com seguranças. Oliveira teve de abrir mão dos restaurantes e almoça um marmitex, comprado em locais estratégicos, porque o juiz já foi ameaçado de envenenamento. O jantar é feito ali mesmo. Entre um processo e outro, toma um suco ou come uma fruta. 'Sozinho, não me arrisco a sair nem na calçada..'




Uma sala de audiências virou dormitório, com três beliches e televisão. Quando o juiz precisa cortar o cabelo, veste colete à prova de bala e sai com a escolta. 'Estou aqui há um ano e nem conheço a cidade.' Na última ida a um shopping, foi abordado por um traficante. Os agentes tiveram de intervir. Hora extra. Azar do tráfico que o juiz tenha de ficar recluso. Acostumado a deitar cedo e levantar de madrugada, ele preenche o tempo com trabalho. De seu 'bunker', auxiliado por funcionários que trabalham até alta noite, vai disparando sentenças. Como a que condenou o mega traficante Erineu Domingos Soligo, o Pingo, a 26 anos e 4 meses de reclusão, mais multa de R$ 285 mil e o confisco de R$ 2,4 milhões resultantes de lavagem de dinheiro, além da perda de duas fazendas, dois terrenos e todo o gado. Carlos Pavão Espíndola foi condenado a 10 anos de prisão e multa de R$ 28,6 mil. Os irmãos , condenados respectivamente a 21 anos de reclusão e multa de R$78,5 mil e 16 anos de reclusão, mais multa de R$56 mil, perderam três fazendas. O mega traficante Carlos Alberto da Silva Duro pegou 11 anos, multa de R$82,3 mil e perdeu R$ 733 mil, três terrenos e uma caminhonete. Aldo José Marques Brandão pegou 27 anos, mais multa de R$ 272 mil, e teve confiscados R$ 875 mil e uma fazenda.

Doze réus foram extraditados do Paraguai a pedido do juiz, inclusive o 'rei da soja' no país vizinho, Odacir Antonio Dametto, e Sandro Mendonça do Nascimento, braço direito do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. 'As autoridades paraguaias passaram a colaborar porque estão vendo os criminosos serem condenados.' O juiz não se intimida com as ameaças e não se rende a apelos da família, que quer vê-lo longe desse barril de pólvora. Ele é titular de uma vara em Campo Grande e poderia ser transferido, mas acha 'dever de ofício' enfrentar o narcotráfico. 'Quem traz mais danos à sociedade é mega traficante. Não posso ignorar isso e prender só mulas (pequenos traficantes) em troca de dormir tranqüilo e andar sem segurança.'

POR ACASO A MÍDIA NOTICIOU ESSA BRAVURA QUE O BRASIL PRECISA SABER? NÃO, AGORA SE ELE FOSSE UM BBB OU O JOGADOR DE FUTEBOL... APARECIA EM TUDO!

ESTE SIM, É UM VERDADEIRO BRASILEIRO!!!!

POR FAVOR, FAÇA A SUA PARTE!

DIVULGUE O MÁXIMO QUE PUDER!!

DIVULGUEM PARA O EXTERIOR PARA QUE VEJAM COMO É FEITA A "JUSTIÇA" NO BRASIL.









segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nova geração

A última entrevista do Pe. José Comblin no Chile




“Não deixe cair a profecia”.
(Últimas palavras de Dom Hélder Câmara ao monge beneditino Marcelo Barros)

O que me leva a publicar novamente a última entrevista do profeta Pe. José Comblin, depois da publicação no portal Religión Digital na Internet, no dia 05 de janeiro passado, é a recomendação profética do santo Bispo Dom Hélder Câmara: “Não deixe cair a profecia”. Quem conheceu Dom Hélder Câmara sabe que era um cristão preocupado com a situação da Igreja e dos empobrecidos. Ele sonhava com uma Igreja voltada, preferencialmente, para os pobres, pois nestes via o rosto sofrido de Jesus de Nazaré.

A Igreja no Brasil teve a graça de contar com a presença profética de várias mulheres e homens que se deixaram conduzir pelo Espírito de Deus, e no dia 27 de março do corrente ano, o Senhor chamou para junto de si, depois de uma longa jornada missionária junto aos pobres, o teólogo e profeta padre José Comblin. A respeito deste homem de Deus podemos afirmar sem medo algum que era um profeta sábio e santo. Profecia, sabedoria e santidade descrevem a figura humilde e simples daquele que foi considerado um dos maiores teólogos da Igreja. Particularmente, eu o considerava o maior e mais lúcido teólogo da Igreja contemporânea.

Agora, irei transcrever a entrevista do Pe. José Comblin, concedida à revista El periodista(Chile), durante a última visita que o mesmo fez aquele país. A tradução é de Moisés Sbardelotto:

“A repressão foi muito forte, terrível, e a ditadura do Papa aqui na América Latina é total e global. Aqui, pode-se criticar Deus, mas não o Papa. O Papa é mais divino do que Deus”, asseverou o teólogo.

Segundo Comblin, a Igreja Católica “abandonou as classes populares, salvo os velhos e algumas relíquias do passado”.

“Hoje, as universidades e os colégios católicos são para a burguesia. O porvir da América Latina é ser um continente evangélico protestante, salvo sua classe alta. Assim, a Opus Dei e os Legionários de Cristo e todas essas associações que existem de ultradireita vão crescendo nesse setor”, opinou.

“Onde há um ou dois bispos da Opus Deu no episcopado, intimidam a todos os demais. Os outros ficam calados e só um fala. Esse é um problema de psicologia típico de ditaduras”, defendeu.

Segundo Comblin, “foi a Opus Dei que elegeu João Paulo II e o atual, praticando a chantagem, intimidando os cardeais. O próximo Papa será igual porque a Opus Dei tem um poder muito forte”.

O teólogo, de 87 anos, defende que Deus está “em La Victoria e em La Legua (dois bairros populares de Santiago) e na prisão, mas de Roma desapareceu há muito tempo”.

“Agora sempre fica mais claro que o problema é o Papa, ou seja, a função do Papa, uma ditadura implacável com muitas formas de doçura e amabilidade, mas implacável”, defendeu.

Comblin defendeu que “o porvir do Cristianismo está na China, Coréia, Filipinas, Indonésia. Estima-se que só na China há 130 milhões de cristãos martirizados, porque estão praticamente perseguidos”.

O teólogo criticou a eventual canonização de João Paulo II porque seu papado “foi catastrófico”.

“Todos os que fizeram sua carreira com ele puderam ser cardeais, apesar de sua mediocridade pessoal. Não mereciam nada, mas ele os promoveu. Claro que agora querem canonizá-lo! Uma vez que canonizaram Escrivã, todo mundo sabe que se pode ser santo sem ter virtude alguma”, destacou.

Sobre a Opus Dei e os Legionários de Cristo, Comblin afirmou que “têm a confiança da Cúria Romana e depois representam a plena liberdade dada a personalidades que são como os grandes Rockefeller, os conquistadores”.

“Como Escrivá de Balaguer, que era um capitalista, o homem que vai triunfar, que vai desfrutar o mundo, que vai ganhar, ser rico, poderoso e que é capaz de criar pessoas totalmente subordinadas, soldados com mentalidade de soldado, esses são todos homens deformados psicologicamente, como são os futuros ditadores”, detalhou.

Depois de recordar que do mexicano Marcial Maciel, dos Legionários de Cristo, foi descoberta uma vida paralela e uma fortuna de 50 bilhões de dólares, afirmou que “sua chantagem, sua palavra e sua exigência chegaram aos milionários”.

“Hoje, os que trabalharam com ele, seus colaboradores, todos dizem e afirmam que não sabiam de nada da vida paralela (de Maciel). Como? Trabalham 40 anos com ele e não sabem de nada, que ele tem uma família, três filhos, que praticou pedofilia com as crianças, alunos de sua formação, de seus colégios, que tinha um mundo de amantes. Não sabiam de tudo isso? Supõe-se, então, que eles são cúmplices e também têm uma vida paralela”, concluiu.
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Essa entrevista nos mostra, claramente, como se expressam os profetas. Estes são homens livres. A liberdade em relação a tudo e a todos marcou profundamente a vida do profeta José Comblin. São poucos os teólogos que tem a coragem que ele tinha. Além da coragem, para ser profeta é preciso ser livre. Teólogos carreiristas jamais falarão a verdade do Evangelho. O que caracteriza um teólogo carreirista é a sua falta de compromisso com a verdade que constrói o Reino de Deus. O Pe. José Comblin não encarava a Teologia como uma mera profissão, mas como uma missão profética para a liberdade do mundo e da Igreja.

Quem conhece a história da América Latina, da Igreja nesta América e no mundo, a estrutura eclesiástica marcada pela rigidez e pela imutabilidade, sabe que o profeta José Comblin estava longe de ser um velho “triste e ressentido, talvez contaminado pelo vírus que afeta a maior parte das pessoas que ultrapassam a casa dos 70 anos”, como pensou Dom Redovino Rizzardo, bispo católico de Dourados no seu infeliz artigo Pe. José Comblin: Crepúsculo de um profeta?

Enquanto a Igreja hierárquica não tiver a humildade de parar para escutar o que diz os profetas, a sua conversão torna-se impossível. O Espírito Santo fala às Igrejas através dos profetas. O que o Pe. José Comblin afirmou nesta entrevista corresponde ao que aconteceu e ao que está acontecendo na Igreja. Somente quem desconhece a história e a estrutura da Igreja pode se escandalizar com o que disse o profeta José Comblin. Assim sendo, que desconhece tal história não possui autoridade nenhuma para afirmar que o profeta se equivocou em suas afirmações.

Pe. José Comblin concluiu uma de suas últimas obras teológicas com as seguintes palavras:

“Os profetas estão no meio de nós. Provavelmente são jovens, pois ainda não apareceram publicamente. Virão para tirar a Igreja da letargia – pois a Igreja ainda não sabe como se emancipar do poder do dinheiro, que tudo invade. Este é o desafio: Jesus que tinha todos os títulos para ser rico, tornou-se pobre – realmente pobre e não como se fosse encenação. Esse é o fato que não podemos negar e que nos questiona.

Eu estou no final da vida. Tive o privilégio de conhecer de perto e de participar da vida de grandes profetas e também de muitos pequenos profetas, homens e mulheres, que não entraram oficialmente na história. Desejo que muitos jovens possam fazer a mesma experiência” (COMBLIN, José. A profecia na Igreja. São Paulo: Paulus, 2008, p. 286).

Resta-nos esperar a manifestação pública destes profetas, que ungidos e conduzidos pelo Espírito Santo se colocam e vão se colocar cada vez mais na fileira daqueles que, a exemplo do padre José Comblin, ousaram anunciar ao mundo e à Igreja o Evangelho da vida e da liberdade. O Espírito Santo está trabalhando e conhece todas as coisas. O Senhor nosso bom Deus jamais nos abandonará nem permitirá que sejamos dominados pela letargia e pelo apego. Bendigamos ao Senhor pelo testemunho profético do Pe. José Comblin!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Fotos de hoje de manhã na entrevista que dei para a turma do 3º ano no IMA








Na Escola Maria Auxiliadora...

Estive hoje de manhã na Instituto Maria Auxiliadora em Porto Alegre, numa conversa muito legal sobre poeta e poesia com a turm do 3º ano.
O convite foi feito a mim pela Cris, que trabalha na Supervisão pedagógica da Escola.  Fui muito bem recebido pela Ir. Cris, pelas demais professoras e colaboradores. De modo especial a professora da turma Janarí Zanirati. Um clima muito legal, um ótimo ambiente e uma estrutura propícia para uma educação integrada.
As crianças adoráveis, muito queridas e simpáticas fizeram várias e profundas perguntas a respeito do poeta, da poesia e sobre vocação e vida pessoal.
Meu abraço de muito obrigado ao Instituto Educacional Maria Auxiliadora de Porto Alegre. E parabéns pelo trabalho e pelas crianças!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Escolhido nome do programa na Rádio Alternativa 87, 9 FM

Olá amig@s!

Agradeço muito a quem sugeriu nome para o programa que assumo a partir dessa terça, das 17h ás 19h.

O nome que pensamos ser mais de acordo com a proposta ficou: "Fala Comunidade". E amanhã  estreia com entrevista ao Felipe Peixoto que falará sobre o abraço ao Lago Tarumã.

Acompanhem! Para quem está na região da Santa Isabel, Vila Jari, Augusta, Santa Cecília, Vila Gaúcha e demais arredores pode sintonizar FM 87,9. Para quem não está nessa área de abrangência pode acessar pelo site: http://www.alternativaviamao.com/

Meu programa será de segunda a sexta sempre das 17h ás 19h.

Forte abraço!

Dilvano.

dilvano_wb@hotmail.com

* Me adicionem no Facebook, procurem por: Dilvano Westenhofer
e MSN: dilvano_wb@hotmail.com


Novo comunicador na Rádio Alternativa 87, 9 FM





A convite de Gérson Medeiros, assumo na Rádio Alternativa FM 87, 9, a partir dessa terça, dia 13 de setembro, das 17h às 19h, um novo programa. 

Acompanhem! Você que não está na área alegrias...

Para quem não está na área de abrangência da rádio 87, 9 FM  pode ouvir pela internet no site: http://www.alternativaviamao.com/                           Estamos ainda pensando  
um  nome para o programa que terá como convidados lideranças de vários setores da comunidade para partilhar seus problemas, demandas, soluções e  e esperanças...

Você pode sugerir um nome para o programa. Me envie no e-mail: dilvano_wb@hotmail.com
Nomes já sugeridos:

- Fala Comunidade;
- Comunidade;
- Fim de Tarde com a Comunidade;
- Comunidade em pauta;
-Linha Aberta;

Abraços! 

Um olhar da fé sobre o universo


Frei Luiz Carlos Susin
Capuchinho e professor

Em tempos de crise ecológica, aquecimento global e mudanças climáticas, com previsão de catástrofes e muito sofrimento, volta a urgência de uma compreensão, nova e aprofundada, do significado último e do destino, mais ainda, do “governo” do universo. É possível evitar a tragédia de um apocalipse mau e encontrar salvação para o mundo? Só a ciência salva? A teologia da criação é chamada a elaborar uma palavra de verdade.
Quando Abraão, o patriarca bíblico, contemplava o céu bordado com estrelas brilhantes, ele via em todas elas uma promessa de futuro. E enchia-se de confiança. Quando Galileu, por trás de seu grande telescópio, perscrutava os céus em movimento, enchia-se de curiosidade. Ele fazia cálculos: sua linguagem não era a da promessa, era a matemática. Hoje o telescópio espacial Hubble envia à terra fantásticas fotografias, e nelas os cientistas olham e estabelecem o passado do universo, não mais o futuro de uma promessa abraâmica. Essa inversão do futuro para o passado se dá pela substituição de olhar. Mas é necessário que seja assim?

Galileu e Abraão - Ao lado do caminho, junto ao barranco, há uma flor – uma rosa. Passa o cientista e vê: - pétalas avermelhadas. Passa uma florista, preocupada em comprar o leite para as crianças e vê: - dois reais! Passa o poeta e suspira: - beleza! Passa um místico e contempla: Deus! São diferentes olhares e conhecimentos diante da rosa. Alguém está mais certo? Não. São diferentes ângulos da verdade da flor, diferentes linguagens para expressar níveis diversos da sua verdade total. O ponto de vista do conhecedor também decide o modo de conhecimento: a florista vê dinheiro na flor porque ela vende a flor e compra comida. O cientista enxerga a flor como se estivesse no seu laboratório. E por aí vai: a intenção dirige o conhecimento.
É por amor que todas as coisas existem? Não parece, diz um cientista: os biólogos podem constatar que o amor é uma invenção da evolução para suprir a necessidade de nutrição e de cuidados entre mamíferos. Enquanto funcionar o instinto do filhote de se refugiar na mãe para sobreviver, também funciona o instinto materno de proteção e aleitamento. Só os humanos prolongam para além do necessário este amor que se torna cultura, hábito, romantismo. E que, segundo alguns, pode mais atrapalhar do que ajudar na agilidade da vida. Na prática, a nossa cultura de utilizar e descartar, sem poesia e reverência, parece confirmar que não vemos nada de amor sublime nas coisas.
E, no entanto, o evangelho pode nos orientar para outro conhecimento: “Olhem as aves do céu, os lírios do campo: não semeiam, não colhem, mas o Pai é que os alimenta e os veste de cores”. Os evangelhos afirmam: há um Criador, que é Pai cuidadoso. É outro olhar, que descobre um amor gracioso, que não se confunde com instinto temporário, é amor puro e fiel.
Há, portanto, diferentes linguagens e diferentes métodos para o conhecimento do universo, do mundo. (Aqui tomamos as palavras “universo” e “mundo” como sinônimos para facilitar). Podemos, de forma simples, distinguir ao menos três grandes métodos de conhecimento (veja quadro abaixo):

Ciências - Galileu, Descartes e Newton, só para citar três nomes que estão nas origens das ciências modernas, não tinham dificuldade em transitar entre as três formas de conhecimento e de métodos. Galileu era um cientista que mantinha a fé em um Criador do universo. Um cientista não é necessariamente ateu ou agnóstico. Mas não pode misturar os métodos quando está em seu laboratório. Um biólogo desliga seu olhar de cientista quando abraça seu filho recém nascido e se deixa tomar pelo mistério de um amor maior do que mero instinto de nutrição. Quando o salmista olha para o céu, ainda que seja filósofo ou cientista, pode cantar: “Ó Senhor, nosso Deus, como é grande o teu nome em todo o Universo! Plasmastes os céus com dedos de artista!” (Salmo 8, 2;4)
As ciências do século XX, desde a astrofísica até a física quântica, passando pela química das estrelas, pelos fractais e pela fantástica teoria das cordas, pela relatividade do tempo e do espaço etc., descortinaram novidades assombrosas no conhecimento do mundo. Pesquisando os campos térmicos das origens ou o “big-bang” – o ponto inicial de expansão do universo que conhecemos, um pontinho menor que a cabeça de uma agulha já contendo as milhares de galáxias com toda sua energia – e diante da organização de estrelas e vidas desde um grande caos criativo, cientistas, como Ilya Prigogine, prêmio Nobel, sugerem que é necessário uma “aliança de saberes” para que o conhecimento da verdade sobre o universo possa progredir. A isso chamamos hoje “interdisciplinaridade”. No entanto, embora a beleza ou o sentimento de assombro diante de uma foto atual do universo, onde a terra, o sistema solar, a nossa ;Via Láctea, vão desaparecendo como minúsculos grãos na imensidão escura, possa levar o cientista a sentimentos de reverência ou de tremenda solidão e abandono, não pode misturar os métodos. Terá o universo um sentido ou é um absurdo? Tem um Criador ou simplesmente se cria a si mesmo? Estas questões são filosóficas e teológicas. Mas há momentos em que os cientistas se tornam também teólogos, mesmo quando creem que não há um Deus criador.

O mundo em mitos e ritos



Convém, em primeiro lugar, esclarecer o que é um “mito”: é uma narrativa simbólica portadora de sentido humano. Mesmo que conte sobre animais que falam ou acontecimentos fabulosos. Assim, o mito é uma linguagem positiva “que dá o que pensar”, e dá também o que fazer, o que sentir, o que esperar. O mito modela nossos pensamentos, sentimentos, ações e esperanças. Fatos históricos importantes que produzem tudo isso se tornam mitos. Nesse sentido positivo, as narrativas dos evangelhos são o nosso grande mito cristão, o acontecimento que dá sentido, orientação, esperança. Da mesma forma, o “rito”: é uma ação simbólica. Nem sempre nos relacionamos com a água ou com o fogo por alguma utilidade, mas para simbolizar uma vida espiritual nova, pura, brilhante. Então acendemos uma vela, colocamos água sobre a cabeça.
As ciências, até a matemática mais abstrata, também usam símbolos. No entanto, são as tradições religiosas que melhor se expressam em símbolos, em mitos e ritos. Expressam-se também em sabedoria e em conceitos, como a filosofia e as ciências. Mas os grandes modelos “míticos” e as ações rituais que lhe correspondem são linguagens próprias das religiões. Mas também da existência humana: um beijo que toca a água cristalina, um poema às estrelas ou um abraço no aconchego de uma árvore podem valer mais do que muitos discursos sobre ecologia e sobre a criação divina.
Os mitos que estão nas religiões para expressar a criação são chamados de “cosmogonias” – literalmente, a criação do cosmos, da ordem das coisas, do mundo. Em seguida vem o sentido de cada coisa, a justificativa, a vocação e o destino de cada coisa desde a sua origem, o que se chama “etiologia” - literalmente, a “causa”. Por exemplo, o fato (“mítico”) que deu origem ao sofrimento no mundo ou a origem das etnias, dos sexos etc.
Se os mitos modelam o modo de pensar e de viver, modelam também os relacionamentos sociais. O mito ariano de que toda a humanidade surgiu do corpo da divindade suprema “Brahma” modelou a sociedade tradicional de castas na Índia. É que os brâmanes, elite sacerdotal e dirigente, surgiram da cabeça, da boca – segundo eles. Os soldados saíram dos braços, os trabalhadores das pernas, os servos dos pés. E os párias, “dalit”, são os que nem sequer saíram do corpo de Brahma, e por isso são relegados aos piores trabalhos. O mito, assim, justifica uma hierarquia social à qual todos têm que se conformar. As cosmogonias, quando narram a criação através de um acontecimento violento, como, por exemplo, um sacrifício de uma divindade materna para gerar o mundo, são a justificativa para aceitar um mundo em que a violência é criadora e, portanto, justificável. Se há uma violência na criação, então também os rituais ao criador serão violentos, sob a capa de sacrifícios necessários, violência da ordem do mundo. Portanto, o modo como é transmitido um mito de criação não é indiferente. É bom se perguntar: qual é a consequência desse modo de contar as origens?

Do Êxodo libertador ao tempo bom do Sábado



Embora o formato atual da Bíblia comece por dois belos relatos de criação de todas as coisas, os biblistas nos avisam que Israel se interessou primeiro pelas origens do povo. Com algumas memórias e alguns escritos, Israel compôs a narrativa do Êxodo, uma história de saída da escravidão a que estava submetido no Egito, saída em uma noite de Páscoa, na passagem do anjo libertador e na passagem pelas águas do mar Vermelho, depois a passagem pelo deserto, uma viagem e tanto! No Êxodo libertador eles reconheceram um Deus que cria um povo novo e livre, de cabeça erguida para o futuro.
À história do Êxodo foi acrescentada a história dos patriarcas, mais antiga: como alguns nômades, à margem das sociedades poderosas da época, deram corajosamente origem a um povo em que o seu Deus é mais um companheiro do que um soberano, e como ele convida a olhar para o futuro ao invés de ficar preso ao sofrido presente. É que as tribos de Judá e de todo Israel conheceram também o exílio de suas poucas terras, e precisavam recomeçar como seus patriarcas. É então que começam a buscar mais além, no horizonte dessa história de bons e maus momentos, como seria a criação da terra toda e dos céus, dos mares e das estrelas. O Deus de seus pais e de sua libertação da escravidão era, afinal, o Deus criador de todas as coisas, que reina sobre todas as nações. Assim nasceram os relatos da criação.
Como no caso da rosa que tem o olhar de um cientista e revela pétalas, mas quando tem o olhar do poeta revela beleza, também Israel olha a criação com o olhar de sua experiência libertadora do Êxodo, com o olhar do tempo bom que é o Sábado. Assim, os dias e os tempos que se sucedem no primeiro relato da criação se parecem com um êxodo que sai da boca de Deus e vai em direção ao sábado, esse tempo final e feliz para toda a criação. Portanto, o olhar da Bíblia para compreender o sentido religioso do universo é o que lhe aconteceu na história e o que lhe está prometido: tudo terá um bom final, o repouso no abraço da criação com o Criador. Esse “mito” enche de bons sentimentos, de esperança e de vontade de fazer os passos para chegar bem no Dia maravilhoso do Sábado com todas as criaturas.

Primogênito da Criação



O Novo Testamento ganha um lugar para contemplar o universo. Jesus é o “belvedere” do cristão, o coração humano do universo, e nele – humano e divino - toda criatura se une ao Criador. Os cristãos começam a viver num mundo perigoso, que calunia e persegue até a morte os seguidores do manso nazareno. Mas ele é maior do que o universo, e todas as coisas foram feitas por meio dele e para que ele seja reconhecido como a fina flor do universo. Sua mãe, Maria de Nazaré, é também reconhecida como a grande matriarca, rainha do céu e da terra.
Os Atos dos Apóstolos contam: O Espírito de Jesus, em Pentecostes, sopra como nos primeiros tempos da criação, mas agora reunindo todos os povos para inaugurar o sábado cristão: o domingo, e a eucaristia no coração do domingo. É este lugar e este tempo que se tornam o lugar privilegiado para as gerações cristãs confiarem num mundo bom e destinado a Cristo, mesmo quando as aparências tentam desacreditar.

Compreender de modo cristão



A comunidade cristã se confrontou com a crença grega na matéria eterna, tão eterna como a divindade que daria forma à matéria, e com a crença nas divindades opostas de luz e trevas, o bem invisível e o mal visível - o gnosticismo e o maniqueísmo. Isso tinha consequências na fatalidade do destino: poucos seriam participantes da criação boa e luminosa. Mas os pensadores cristãos se abasteceram na Bíblia para afirmar que Deus cria tudo “do nada”, por pura benevolência, como um Pai, único a ter poder criador, e tudo o que existe é bom. O mal deve ser buscado em outra origem, não divina, mas no próprio pecado humano.
Assim nasceu a teologia cristã da criação, retratada no começo do Credo: “Creio em um só Deus, Pai Onipotente, Criador dos céus e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”. Sem a memória de Jesus, humano e Filho de Deus, e sem a certeza de que o Espírito Santo sopra em todo o universo como acompanhou o povo de Israel pelo deserto no símbolo da nuvem, esse Credo seria impossível. Os cristãos não ficaram imunes ao contágio de um pessimismo em relação às coisas materiais e terrenas, mas o princípio fundamental estava bem colocado. Por isso a teologia cristã da Criação, séculos depois, ganhou um cantor e um padroeiro em São Francisco, que inaugurou a língua italiana com o “Cântico do Irmão Sol”, chamado também “Cântico das Criaturas”.
Deus, uma “hipótese inútil?”



Depois vieram Galileu, Descartes, Newton, e a era dos cientistas modernos. Ficou célebre a resposta de Laplace a Napoleão quando este perguntou onde estava Deus na sua explicação: “Deus? Uma hipótese inútil!” De fato, o universo então parecia uma máquina, um relógio. Os maçons afirmam que ele é o arquiteto, o construtor da máquina. Mas é melhor ficar fora dela.
No século XX, o universo se revelou com tal complexidade e mistério que mais parece uma obra de arte do que uma máquina. Os cientistas honestos vivem perplexos, como o dramaturgo inglês Shakespeare: “Há mais mistério entre os céus e a terra do que pensa a nossa vã filosofia!” A ciência se tornou mais modesta, sabe de seus limites. E sabe que, depois de suas explicações, ficam sempre as perguntas principais: de onde viemos? Para onde vamos? Qual o sentido último de nossa existência e da existência do imenso universo? Absurdo? Mistério? Há um grande amor a envolver até a dor mais profunda do universo, a morte? A teologia, mais uma vez, precisa fazer um grande esforço, com a ajuda da fé e de tanto conhecimento. Aqui, no Correio Riograndense, vamos fazer este esforço em dez passos.

sábado, 3 de setembro de 2011

Igreja no Brasil celebra o Mês da Bíblia 2011 com o estudo do Livro do Êxodo



“Desconhecer as Escrituras é desconhecer o Cristo”, com essa frase, de São Jerônimo, que a Igreja celebra, nesse mês de setembro, o Mês da Bíblia. Neste ano, o estudo proposto pela Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), será o Livro do Êxodo, capítulos 15,22 a 18,27, que é conhecido como o “Livro da Travessia”.
O presidente da Comissão para a Animação Bíblico-catequética e arcebispo de Pelotas (RS), dom Jacinto Bergmann, escreveu uma mensagem para toda a comunidade cristã que celebra o Mês da Bíblia.

Dom Jacinto pede que todos procurem viver intensamente o esse mês, em todas as comunidades cristãs espalhadas pelo território nacional. “Que bom que temos um Subsídio elaborado pela Comissão para a Animação Bíblico-catequética, que, usado em nossos Grupos Bíblicos, nos ajudará a conhecer e interpretar, a comungar e orar, a evangelizar e proclamar a Palavra de Deus e assim caminharmos sempre mais para uma verdadeira animação bíblica da pastoral, formando entusiastas discípulos missionários de Jesus Cristo”, destacou.

O Subsídio

O Subsídio apresenta vários textos para estudo, reflexão, oração e prática para o Mês da Bíblia de 2011. Não pretende dizer tudo, mas apontar pistas para o trabalho individual e comunitário. Foi pensado como material de apoio, isto é, traz elementos informativos a serem desenvolvidos posteriormente e indica também roteiros práticos, que podem orientar grupos de reflexão e leitura orante sobre o assunto.

Leia abaixo a íntegra da mensagem de dom Jacinto Bergmann, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética da CNBB.

Mês da Bíblia

Mês de Setembro para a nossa Igreja no Brasil já é, por uma bonita tradição, sinônimo de MÊS DA BÍBLIA. O grande São Jerônimo, presbítero e doutor, cuja memória celebramos no final do mês de setembro, dia 30, nos motivou desde o início e motiva ainda hoje para a dedicação do mês de setembro inteiro para ser o da Bíblia. Sabemos da importância do trabalho bíblico de São Jerônimo realizando a tradução da Vulgata; e sua frase é emblemática: “Desconhecer as Escrituras é desconhecer o Cristo”.

Também já é uma bonita tradição, a CNBB, através da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, oferecer um tema para o Mês da Bíblia para o estudo, a reflexão, a oração e a vivência da Palavra de Deus. O tema pode girar ou em torno de trechos bíblicos, ou de um Livro bíblico, ou até de um conjunto de Livros bíblicos. A escolha do tema para o Mês da Bíblia deste ano de 2011, concentrou-se no trecho do Livro do Êxodo, capítulos 15,22 a 18,27, que é conhecido como o “Livro da Travessia”. É necessário olharmos as etapas da travessia desértica do Povo de Deus, saindo do Egito e buscando a Terra Prometida: as dificuldades enfrentadas pelo Povo de Deus, tanto os problemas da natureza, quanto os desafios oriundos pela convivência humana, criaram a necesidade de enraizar e vivenciar a fé, a esperança e o amor em Deus. Queremos aprender com o Povo de Deus a realizarmos a nossa travessia de discipulado e missão. Eis, pois, o tema tão propício para o Mês da Bíblia de 2011: “Travessia, passo a passo, o caminho se faz”. Mas, o fundamental em tudo isso, é estar próximo ao Senhor Deus. Assim, do capítulo 16, versículo 9, é tirado também o lema: “Aproximai-vos do Senhor”.

Vamos viver intensamente o Mês da Bíblia em todas as nossas comunidades cristãs espalhadas pelo território nacional. Que bom que temos um Subsídio elaborado pela Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, que, usado em nossos Grupos Bíblicos, nos ajudará a conhecer e interpretar, a comungar e orar, a evangelizar e proclamar a Palavra de Deus e assim caminharmos sempre mais para uma verdadeira ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL, formando entusiastas discípulos missionários de Jesus Cristo.

Dom Jacinto Bergmann,
Arcebispo de Pelotas e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética